sábado, 8 de junho de 2019

Línguas é evidência do batismo no Espírito?

Uma pergunta deve ser respondida com seriedade e honestidade intelectual: Línguas é evidência física inicial do batismo no Espírito Santo? Busquemos, então, na própria Bíblia a resposta.
Existem apenas três registros do fenômeno de línguas no livro de Atos dos Apóstolos. Um detalhe importantíssimo é o cronológico. A partir do Pentecostes o segundo fenômeno verificou-se mais ou menos sete ou oito anos depois. E, o terceiro caso de línguas deu-se cerca de vinte anos após o evento pentecostal. Ou seja, os fenômenos descritos por Lucas  compreendem um período de duas décadas no mínimo!
O primeiro caso encontra-se em Atos 2.1-13. No dia de Pentecostes ocorreu o derramamento do Espírito em cumprimento da profecia de Joel. Note bem, distinto leitor, que houve fenômenos visíveis e audíveis.
E de repente veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam assentados. E foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles. E todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem” (Atos 2.2-4) – grifo do autor.
O texto é cristalino. Os discípulos foram capacitados pelo Espírito Santo a falarem em idiomas humanos. É improcedente a ideia de que foi falado ‘línguas estranhas’. Estas são ininteligíveis. Já as faladas no dia de Pentecostes foram inteligíveis. A favor desse argumento constata-se que as línguas foram identificadas e compreendidas (Vs. 6, 8 e 11).
É digno de nota que os discípulos foram tanto batizados no Espírito quanto cheios do Espírito simultaneamente (Cf. At 1.5,8; 2.4). O batismo espiritual acontece uma única vez; já a plenitude do Espírito pode ser repetida. São coisas distintas. Guarde isso em mente.
Geralmente salienta-se que as pessoas após se converterem precisam buscar o batismo espiritual com a evidência de ‘línguas estranhas’. O que causa estranhamento é que naquele dia, de Pentecostes, não se falaram línguas incompreensíveis, ao contrário, foram línguas inteligíveis. Observa-se, portanto, que não pode associar o fenômeno genuinamente pentecostal com o hodierno. Se línguas fossem sinal do batismo no Espírito teria que ser línguas estrangeiras.
Ademais, carece de embasamento a ideia de que uns são batizados no Espírito e, outros não. Segundo o apóstolo Paulo todos são imersos no Espírito Santo (1 Co 12.13). No texto de Atos supracitado fica claro que todos foram batizados no Espírito.
Após alistar as nacionalidades presentes no dia de Pentecostes, segue-se: “todos nós temos ouvido em nossas próprias línguas falar das grandezas de Deus” (Atos 2.11). De alguma forma as línguas simbolizavam a universalidade do evangelho. Isto não pode ser ignorado.
O segundo caso de línguas é registrado em Cesaréia. Atentemos: “E, dizendo Pedro ainda estas palavras, caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra. E os fiéis que eram da circuncisão, todos quantos tinham vindo com Pedro, maravilharam-se de que o dom do Espírito Santo se derramasse também sobre os gentios. Porque os ouviam falar línguas, e magnificar a Deus” (At 10.44-46). Chama-nos a atenção de que Pedro associou esse caso ao ocorrido cerca de sete ou oito anos atrás, no Pentecostes (Cf. At 11.15,16). Estas línguas faladas por Cornélio e os de sua casa eram também línguas estrangeiras. Eram inteligíveis e, consequentemente magnificavam a Deus. As línguas nesse evento explicam-se pela situação histórica. Os gentios não eram bem quistos. O próprio apóstolo Pedro apresentou resistência em entrar no lar de um gentio, pois este era considerado impuro. Todavia, Pedro compreendeu que Deus não faz acepção de pessoas. Os gentios estavam incluídos no corpo de Cristo, a igreja. A recepção do dom do Espírito, isto é, o próprio Espírito Santo e a evidência das línguas estrangeiras dirimiram qualquer dúvida no que tange a inclusão dos gentios.
É significativo que todos os membros da família de Cornélio receberam o Espírito Santo. Nenhum deles deixou de ser receptáculo do Espírito Santo. Parece-me que os casos de línguas atuais não estão de acordo com esse evento específico.  
O terceiro e último caso de línguas está em Atos 19.1-7. Em termo de cronologia nesse evento calcula-se vinte anos a vinte e cinco após o Pentecostes. Doze homens deslocados no tempo sequer tinham ouvido falar do Espírito Santo. É curioso que Paulo desconfiou de algo ao perguntar quando tinham recebido o Espírito. Eles foram batizados em água. Paulo então impôs as mãos, e veio sobre eles o Espírito Santo; e falavam em línguas, e profetizavam. Em relação às línguas Lucas não diz que eram diferentes dos registros anteriores. É interessante que Lucas menciona as línguas [estrangeiras] associadas com profecia. Ao menos o verso diz que ‘profetizavam’.  E, nós sabemos que se dá através da inteligibilidade.
São apenas três casos de línguas em Atos. Está patente que nos dois primeiros casos foram na forma de idiomas humanos. E, não tem nada em contrário no que tange ao último. Caso queiram estabelecer um padrão encontrarão dificuldade hercúlea ao atrelar ‘línguas estranhas’ nos moldes atuais. Realmente não tem nada a ver com o fenômeno de línguas em Atos dos apóstolos. Outra coisa que fica clara que as pessoas e/ou grupos que falaram em línguas jamais buscaram línguas tampouco o batismo no Espírito Santo. A procura hodierna não se respalda nos textos analisados. Ficou nítido que a experiência com o Espírito Santo foi em todos, não em alguns poucos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário