segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Dom de línguas: inteligíveis ou ininteligíveis?

Muita confusão ainda há no que tange ao fenômeno bíblico de línguas. Por isso, espera-se dissipar ou dirimir algumas dúvidas. É necessário mente reverente e abertura de coração em relação ao que a Bíblia preceitua. Que para tanto Deus ilumine para a devida compreensão.

É de bom alvitre o leitor conceber que a palavra “estranha” atrelada à língua inexiste no texto grego. Ainda assim, quando o tradutor em nossa língua vernácula usou o termo não o fez com o sentido de língua ininteligível.

O fenômeno de línguas é descrito como glossolalia, isto é, falar [em] línguas. No dia de Pentecostes foi concedido pelo Espírito Santo – miraculosamente, a capacidade de falarem em línguas humanas. Não se tratou de línguas angelicais e/ou celestiais muito menos línguas incompreensíveis como nos dias atuais.

Ora, se a evidência do batismo espiritual fosse línguas certamente seriam idiomas; não línguas incompreensíveis. Caso o Pentecostes seja padrão então todo crente hodierno falará língua inteligível para assim fazer jus ao evento supracitado.     

Improcedente é atribuir ao ocorrido no Pentecostes milagre na audição dos ouvintes quando explicitamente o Espírito Santo concedeu que falassem noutras línguas. É dito com todas as letras que falaram em várias (ou diferentes) línguas de acordo com tradução acertada.

A associação indevida de línguas ininteligíveis nega o verdadeiro dom de línguas. Além disto, cria dificuldades hermenêuticas instransponíveis. Então, fique claro que a multidão com representatividade de diversas nacionalidades ouviu em suas línguas porque foram, de fato, faladas. Não é dom de “ouvido” (ou relacionado à audição). Mas é dom de línguas inteligíveis, isto é, estrangeiras.

Muitas são as especulações e conjecturas. Deixo-as de lado, visto que, só o fenômeno bíblico me interessa e, no qual me detenho. Contudo, Paulo assevera que as línguas [estrangeiras] é um sinal para os descrentes. Evoca inclusive profecia de Isaías.

É importante salientar que o dom espiritual visa proveito comum. Tem o propósito de edificar a igreja. A utilização de um dom legítimo (ou ainda o uso de uma contrafação do dom) para benefício pessoal denota o estado egoístico daquele que assim procede.

O fato é que muitos nos dias atuais apegam-se a línguas ininteligíveis e, rejeitam o autêntico fenômeno de línguas. Agem ainda hoje na ignorância apesar de serem pessoas sinceras. Somente o estudo sério, sistemático e criterioso para corrigir tal posicionamento. Terminantemente, não falam as línguas conforme se deu no Pentecostes.  

Colocando os pingos nos is ( Acerca do dom de línguas e afins)

A Bíblia esclarece que a outorga do dom espiritual ao crente é de competência do Espírito Santo. Também está claro que o dom é dado para a edificação da igreja. Isto porque objetiva-se proveito comum.

Tratando-se especificamente de variedade de línguas, conseguinte interpretação de línguas, não é concedido a todo crente. Destarte, jamais poderia ser o sinal do batismo no Espírito Santo.

Segundo o apóstolo Paulo todo crente é imerso no Espírito no começo da vida cristã, ocasião em que é incorporado no Corpo de Cristo. Daí inexiste orientação apostólica para buscar o batismo espiritual.

Diante disso, pode-se afirmar que o dom é concedido para o serviço cristão; nunca para proveito pessoal. Além de que todo crente está no mesmo patamar – posição igualitária, pois estão em Cristo.

A alegação de que há um dom de oração proveniente do Espírito posterior à salvação não se sustenta ao considerar o ensino geral da Escritura. É fato que ao torna-se cristão a pessoa recebe o Espírito Santo. Este por sua vez confere poder espiritual, e mediante sua habitação no crente, auxilia em tudo, inclusive no tocante à oração.

No entanto, a assertiva de que o crente pode se expressar com gemidos inexprimíveis não é procedente. O texto em questão diz que o Espírito Santo intercede diante do Pai com gemidos inexprimíveis, porém, não afirma que é o modus operandis do crente é o mesmo.

No livro de Atos mostra que nos três casos em que houve línguas tratava-se de línguas inteligíveis. Eram línguas reais. Ademais, não foram buscadas. Não foi adotado expediente humano para obter o fenômeno genuíno.

Já em Corinto o apóstolo Paulo admoesta os crentes de tal modo que ao deixarem as atitudes inadequadas os problemas concernentes às línguas cessariam. Transparece no texto que não se referia só ao uso inapropriado, mas pelo contexto sugere que a origem do fenômeno era doutra natureza.

De qualquer forma o apóstolo requer ordem e decência na reunião cúltica. Além disto, impõe a necessidade de inteligibilidade no culto, principalmente, em relação às línguas.

Uma digressão se faz necessária: ao descrever variedade de línguas Paulo versa sobre várias línguas étnicas, excluindo assim línguas ininteligíveis.

Aos que advogam que línguas incompreensíveis é sinal do batismo espiritual, e para beneficio próprio, vale lembrar que Paulo afirma que as línguas não são sinais para os crentes, mas sim para os descrentes.

Fiquemos, pois, com aquilo que a Bíblia preceitua. Que Deus nos abençoe, portanto.