Desde a década de 90 a doutrina do Espírito Santo, especificamente a questão relacionada ao batismo no Espírito Santo despertou minha intenção e, consequentemente foi assunto de meu interesse.
Tive livre acesso ao meio denominado pentecostal tendo participado de inúmeras reuniões cúlticas, conhecendo os seus bastidores inclusive. Além disto, devorei as literaturas clássicas desse movimento hercúleo. Tenho parentes e muitos amigos, que moram no lado esquerdo do meu peito, que fazem parte desse segmento religioso em solo pátrio.
Observo que no passado a ênfase no batismo espiritual era maior. Nota-se certo declínio no âmbito pentecostal. A própria liderança embora reafirme a doutrina distintiva tem sido mais comedida. Essa é ao menos a impressão que tenho.
Algo que não passou despercebido foi o fato de bastantes pessoas terem recebido o tal ‘revestimento de poder’, ainda assim, ficarem aquém da proposta inicial. Parece-me que na prática a experiência religiosa não gerou grande mudança, ao menos a esperada pelos então candidatos do batismo espiritual. Não quero partir para a polêmica, porém, a chamada ‘segunda benção’ não surtiu o efeito aventado.
Apesar de discordar do ensino [equivocado] do batismo no Espírito Santo com a evidência de línguas estranhas, não posso deixar de reconhecer que o movimento pentecostal ofereceu contribuição no Brasil e mundo. E, é irreconhecivelmente uma grande força no cenário religioso.
Faço uma ressalva. Estudando as doutrinas pentecostais. Confesso que li inúmeras teologias sistemáticas dessa vertente. E fiz a leitura atenta de outras obras. Tenho boa impressão da doutrina em si. Acho-a interessante. Todavia, pressinto que há certo abismo entre a doutrina e a prática. De um tempo pra cá tenho feito leitura, inclusive, de material acadêmico de alta qualidade que não reflete o cotidiano no arraial pentecostal. Isto sempre chamou a minha atenção.
Sabidamente ventila-se no meio pentecostal que o Espírito Santo é uma pessoa divina, diga-se de passagem, a terceira pessoa da santíssima Trindade. No entanto, parcela significativa dos membros lida com o Espírito como se fosse um poder impessoal e/ou uma energia. Nesse caso, o Espírito Santo atua como se fosse um fio desencapado dando choque nas pessoas. Esse comportamento ‘eletrizante’ é patente. Logo, não pode ser negado.
Se analisar detidamente as Escrituras veremos que o batismo no Espírito é equivalente ao dom do Espírito. Este consiste no próprio Espírito Santo que é outorgado ao crente em Jesus (Cf. Atos 2.38,39; 10.44-48 – 11. 15-18). De fato, o dom do Espírito está disponível a todos que depositarem sua fé em Cristo e arrepender-se genuinamente de seus pecados (queira ler, por favor, a referência bíblica acima).
O batismo no Espírito, por exemplo, na Bíblia foi ação unilateral da parte divina. Por isso, que causa estranheza buscar o batismo espiritual. Repare que todo e qualquer expediente [humano] utilizado na contemporaneidade carece de fundamentação escriturística. Nenhuma das pessoas buscou o batismo espiritual. Isto justifica a ausência do assunto nas epístolas do Novo Testamento.
Agora trato da questão da evidência do batismo no Espírito. Existe divergência por parte de crentes sinceros em todos os segmentos do cristianismo. Então, não se pode esperar unanimidade no que tange ao entendimento desse autor. Como pontuo em relação ao movimento pentecostal, esse assevera que o sinal do batismo espiritual é o falar em línguas. Pergunta oportuna é: que tipo de línguas? Isto porque as línguas faladas no dia de Pentecostes foram indubitavelmente idiomas humanos. Muitos estudiosos pentecostais reconhecem que constam naquele evento línguas reais, portanto, conhecidas. Se o ponto de partida é o evento Pentecostal conforme descrito em Atos 2 o que se deve esperar no mínimo, por uma questão de coerência, é que as pessoas falem hoje em dia línguas estrangeiras, e não línguas estranhas.
Sou obrigado a repetir que os discípulos jamais buscaram o batismo no Espírito Santo, por uma questão puramente didática - para fixação na mente e coração do leitor, assim como as línguas faladas no evento de Pentecostes não são as mesmas da atualidade. Acho desnecessário discorrer extensamente sobre a ausência dos demais fenômenos visíveis e audíveis, conforme descrições bíblicas não se repetem mais (Atos 2.1-11). Vale salientar que houve um cumprimento profético.
Se as línguas estranhas, comumente faladas, não tem nada a ver com Atos 2, vejo como improcedente exigir que o candidato ao ministério pastoral informe que é batizado no Espírito tendo línguas incompreensíveis como sinal. Se o critério é bíblico, logo quem fala língua estranha – digo de maneira respeitosa e falando a verdade em amor, não harmoniza com o evento genuinamente pentecostal. Soube de homens sérios e valorosos, inclusive, com moral ilibada que foram impedidos de participar de liderança eclesiástica [somente] por não emitirem uns sons ininteligíveis.
O autor não nega importância que a famigerada ‘segunda benção’ tem para os de dentro do movimento pentecostal. No entanto, não ver compatibilidade com o teor escriturístico, visto que, insisto que jamais se buscou o batismo no Espírito sequer foram faladas línguas estranhas – nos moldes atuais, no dia de Pentecostes. Por isso, não enxergo como uma experiência semelhante, pois há algumas discrepâncias que não comportam nesse escopo.
Concluo ratificando que o autêntico batismo espiritual se dá com a outorga do dom do Espírito. Destinado a todo aquele que crê e se arrepende por ocasião de sua conversão. Que indubitavelmente os discípulos falaram idiomas humanos concedidos de maneira miraculosa (Cf. Atos 2.4). Que em nenhum lugar do Novo Testamento há insinuação tampouco mandamento para se buscar o batismo no Espírito Santo. Ao contrário, preceituado está que deve sim, buscar se cheio do Espírito (Efésios 5.18). Todavia, essa plenitude é distinta do batismo espiritual podendo ocorrer simultaneamente.